O Cineclube Universitário nas duas primeiras exibições do ano de 2011, buscou trazer a temática: escola e a relação entre professores e alunos. Exibindo nesse segundo momento o filme norte-americano Half Nelson do diretor Rian Fleck, lançado em 2006. Após o filme, como já de costume, ocorreu o debate relacionando-o com a realidade que muitas escolas atualmente vivenciam, apontando as dificuldades pelas quais hoje os professores passam em relação a convivência e o ensino-aprendizagem dos estudantes do século XXI.
O filme Half Nelson retrata a vida de um professor de História viciado em drogas, de uma escola secundária localizada em uma região pobre. Como professor, Half Nelson não segue o currículo proposto pela instituição, mas tenta da melhor maneira levar o conhecimento aos adolescentes com quem trabalha. A realidade com a qual o professor vive é descoberta por uma de suas alunas e o tempo faz de ambos bons amigos. Uma amizade que foi conservada, apesar do vício do professor, mesmo quando ele deixou de dar aula, afinal, naquele ponto de sua vida a frustração era maior que a força de vontade de entrar em uma escola.
Entre os muitos fatos polêmicos que o filme levanta, colocamos a pergunta inicial: Até que ponto a relação professores-alunos deve ser mantida? Sob esse ponto de interrogação, o filme baseia-se, abrangendo o outro lado da moeda, mostrando um professor que é usuário de drogas em decorrência das constantes frustrações que ele acaba sofrendo no decorrer de sua vida tanto pessoal quanto profissional. Fica dessa maneira evidente o stress pelo qual os professores passam durante o dia em sala de aula e no pouco tempo “vago”que possuem a disposição.
Em suma, o filme tenta desconstruir a ideia que gira em torno da sociedade, na qual o professor deve ser o “certinho” não só dentro da sala, mas também fora dela, de que o professor deve dar “exemplo” em todas as circunstâncias da sua vida, de que “professor não tem problemas”(...). Assim, o filme aponta essa nova dimensão de realidade em que o Half Nelson tenta apresentar uma posição “certa” dentro da sala de aula, contudo, fora dela busca a todo o custo um ponto de fuga para escapar de sua própria vida, encontrando-o somente nas drogas.
Outra questão levantada no debate, é a de como trabalhar dentro de uma sala de aula, respeitando as diferentes realidades em que os alunos se encontram e ao mesmo tempo, atendendo às perspectivas desses, sem ferir a estrutura cultural, econômica, entre outras, que possuem. Outro ponto é como fazer a disciplina lecionada não ser algo massacrante e nem liberal demais, formando não necessariamente “santinhos” e sim pessoas ativas dentro de uma sociedade turbulenta.
Nesse aspecto, o debate acadêmico possibilitou formularmos mais uma interrogação, decorrente da ideia do “para que serve?”, qual a utilidade dessa ou daquela matéria, como se todas as coisas teriam que possuir uma praticidade voltada para algo concreto. Hoje a sociedade universitária e escolar está totalmente voltada para a ideia de que cada pessoa deve aprender apenas aquilo que lhe convém, por exemplo, alguém que cursa Administração jamais será favorável ao estudo voltado para a Filosofia e outros conhecimentos históricos, tendo em vista que o curso tende a estar voltado para trabalhar com “números”. Esse exemplo mostra uma visão preconceituosa perante aos outros que possuem um conhecimento diferente, ou seja, no momento em que perguntamos “para que serve?”, apontamos essa outra dimensão sob um aspecto inferior, colocando o nosso ponto de vista como superior.
Assim, aos acadêmicos dos cursos de licenciaturas e àqueles que pretendem ingressar em algum um dia, resta refletir:
De que maneira sairemos da Universidade?
Estaremos preparados para trabalhar com as mais diferentes realidades que aparecerão dentro de nossa sala de aula?
Como trabalharemos para agradar à todos os alunos, sem deixar nossa vida pessoal influir na escola?
Ana Paula Wizniewski
Acadêmica de Licenciatura em Ciências Sociais
Francisco Xavier Buehrmann
Acadêmico de Licenciatura em Filosofia